REVENDO UMA VELHA PARCERIA
SESC Galeria 1993 - Desenhos
Artistas jovens buscando sua primeira exposição procuram sublinhar em seu trabalho algo que faça eco às tendências internacionais recentes, ou ao que sentem como tal. É comum darem ênfase à expressividade da matéria, à figuração diluída em meio a massas de cor e texturas, ao apelo a signos arcaicos e da cultura de massa, ou mesmo buscas mais cerebrais. A atitude faz parte de um processo normal. Dá segurança ao artista, confere o aval de filho de sua época e resguarda que seja atirado abruptamente em um terreno onde ainda caminha com cuidado. Não raro permite resultados sensíveis e muitas vezes apontam os indícios de pesquisas que serão encaradas com coragem.
A mostra dos desenhos de Alexandre Alves seguiu um padrão diverso do corriqueiro. Da vontade de discutir um projeto desenvolvido por mais de um ano e de mostrar desenhos feitos quase compulsivamente durante apenas um mês, veio a oportunidade para expôr. Ficou aturdido. Porém seus desenhos é que são a causa do estranhamento. Nestes tempos por si ia aturdidos, apenas aspectos especiais conseguem perturbar.
A Arte Contemporânea tem poucos tabus. Talvez sem ter percebido sua audácia, Alexandre desafiou um deles ao propor urna visão própria da velha e tão desgastada parceria arte-religião. O resultado em momento algum pode ser qualificado de passadista ou piegas. São desenhos imediatos, decididos, de gestos rápidos, composição equilibrada e de sentimento sincero - como diriam os velhos cronistas paulistanos.
Porém Alexandre não está desvinculado de seu próprio tempo e das implicações que impõe à pratica da arte. Curioso por natureza, a liberdade para pesquisar e experimentar são marcas que definem seu percurso ainda breve. Buscou algumas investigações na música e na cenografia. O gosto pela improvisação foi responsável pela construção de objetos e cenários, que um olhar mais atento descobria, divertido, e que na verdade não eram o que realmente pareciam. Motos feitas de trenzinhos de brinquedo e utensílios plásticos; encarnações perfeitas do que Baudrillard chamou de primeira ordem do simulacro. Em paralelo, seguiu uma exploração das possibilidades do desenho e da pintura.
A busca é o melhor remédio para a inquietação. Como toda poção, se mal dosada, pode virar veneno perigoso. A pesquisa desordenada e sem rumo determinado corria o risco de levar à dispersão. À solução disciplinadora foi canalizar a pesquisa para o desenho e para o estudo de um tema da História da Arte: a arquitetura religiosa medieval.
Como um ponto leva a outro e todos conduzem à uma linha, descobriu as iluminuras, os afrescos, como concepções diversas que ganhavam forma e eram portadoras de valor próprio. A compreensão de que a qualidade da imagem está vinculada ao seu significado intrínseco - independente ou não da qualidade narrativa. Surgiu a indagação sobre as possibilidades de sobrevivência daquela velha parceria, desta vez desvinculada de estruturas de poder e despojada de proselitismo. Buscou nos textos bíblicos a poesia de idéias, palavras e imagens. Encontrou o antigo religare latino, que tantas adulterações tem sofrido.
A união de todos estes pontos gerou não uma, mas muitas linhas, literalmente feitas a têmpera e com o mesmo pincel largo, que o uso constante transformou em ponta seca. Longe de ser anacrônico, Alexandre é um jovem artista de nosso tempo. Talvez racional-mente não saiba, mas com certeza usufrui de uma prerrogativa deste fim de século. O artista não mais precisa romper com o passado para propor o inédito. Apreende o passado e o presente, o popular e o erudito, o público e o privado. A partir daí constrói sua própria versão, que em si é um acontecimento único. Mesmo assim é possível que ainda arranhe alguns tabus que tenham persistido e, por vezes, nem sejam lembrados.
Maria Izabel Branco Ribeiro Julho/ 93
Maria Izabel Meirelles Reis Branco Ribeiro graduou-se em Licenciatura Plena em Educação Artística na FAAP. Especializou-se em Arte-Educação e Museu, na ECA-USP, e obteve os títulos de mestrado e doutorado em Artes, nesta mesma escola da USP. Foi professora titular doutor de História da Arte na FAAP (1989 – 2003) e professora convidada da disciplina Evolução das Artes Visuais III, na ECA-USP, em 2000.Pesquisadora do MAM SP, trabalhou na catalogação de acervo e montagem de exposições. 1984-1986. Ingressou no MAC da USP em 1991, onde desenvolveu pesquisa da coleção e organização de exposições de acervo, de 1991 a 1992, além de exposições temporárias de 1992 a 1994.Desde 1994 é Diretora do Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado.
Maria Izabel Meirelles Reis Branco Ribeiro graduou-se em Licenciatura Plena em Educação Artística na FAAP. Especializou-se em Arte-Educação e Museu, na ECA-USP, e obteve os títulos de mestrado e doutorado em Artes, nesta mesma escola da USP. Foi professora titular doutor de História da Arte na FAAP (1989 – 2003) e professora convidada da disciplina Evolução das Artes Visuais III, na ECA-USP, em 2000.Pesquisadora do MAM SP, trabalhou na catalogação de acervo e montagem de exposições. 1984-1986. Ingressou no MAC da USP em 1991, onde desenvolveu pesquisa da coleção e organização de exposições de acervo, de 1991 a 1992, além de exposições temporárias de 1992 a 1994.Desde 1994 é Diretora do Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado.
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